segunda-feira, 25 de março de 2013

A Educação das Relações Raciais na Escola | AfroPress

A Educação das Relações Raciais na Escola | AfroPress

O texto pretende apresentar uma reflexão acerca da Lei nº 10.639/03 que acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas na Educação Básica. Tendo passado dez anos da assinatura dessa Lei, levantamos quais são os desafios que ainda permanecem e as possibilidades à sua implementação, entendendo que há grande relevância no tema para fundamentar outras discussões sobre a metodologia que vem sendo empregada, os objetivos e conteúdos trabalhados e as adequações na formação de professores.

domingo, 24 de março de 2013

Boneca Abayomi





Essa foi eu mesmo quem fez. Aprendi na Oficina de Saberes Quilombolas, da Professora Bel Cabral, de Palmas, no Encontro de Educadores Negros e Negras do Estado do Paraná em 2012.

A palavra Abayomi tem origem no iorubá, significando aquele que traz felicidade ou alegria, ou ainda, "meu presente". (Abayomi quer dizer encontro precioso: abay=encontro e omi=precioso). O nome é comum na África do Sul, mas também é encontrado até o norte da África, e no Brasil. No Brasil, designa bonecas de pano artesanais, muito simples, a partir de sobras de pano reaproveitadas, feitas apenas com nós, sem o uso de cola ou costura e com mínimo uso de ferramentas. Conta-nos a história que os negros confeccionavam ABAYOMIS como amuleto de proteção espiritual. Em viagens para o Brasil nos navios negreiros, durante o tempo da escravidão, as mulheres rasgavam a barra da saia e faziam Abayomis para as crianças brincarem.

I Seminário do Dia Internacional de Combate ao Racismo em Ponta Grossa











Pela primeira vez, em Ponta Grossa, foi realizado um evento que discutiu a questão do negro na sociedade e no mercado de trabalho. Um grande trabalho do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais. Parabéns a todos que se empenharam para a realização desse evento, Dr. Zé Luis, Profº. Carlão, Profº. Saulo, Profº. Daniel e tantos outros que fazem parte do Instituto.

quinta-feira, 21 de março de 2013

21 de Março: Dia Mundial de Combate ao Racismo

* Quinta-feira, 21 de março, é o “Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial”.  A data foi escolhida em memória ao episódio conhecido como “Massacre de Shaperville”.
Em 21 de março de 1960, na cidade de Sharpeville, África do Sul,  estudantes realizaram uma  manifestação, contra a Lei do Passe, que obrigava os negros da África do Sul a usarem uma caderneta onde estava escrito onde eles podiam ir. Durante o protesto, o exército atirou sobre a multidão matando 69 pessoas e ferindo outras 186.  O fato abalou o mundo e a data foi instituída para a reflexão sobre a luta do povo negro contra a discriminação.
Mais um dia para se refletir e se questionar sobre as diferenças entre pessoas, pelo seu tom de pele. Essa diferença que deveria fazer a diferença no aspecto cultural de um povo, mas que ainda é alvo de ignorância e desconhecimento de muitos. Infelizmente ainda temos casos de racismo em nosso país, que se diz miscegenado e que respeita a diversidade de cores da sua população. Mas, sabemos que isso ainda não é a realidade em nossa sociedade. Ainda precisamos de várias questões, como campanhas contra os racismo e preconceito racial, de discussões de leis em parlamentos para criar políticas de ações afirmativas, para possibilitar a igualdade racial, social e institucional da população afrodescendente em nosso país.
Acredito que com muita luta ainda conquistemos essa igualdade e enfim teremos oportunidades de buscar sonhos antes inatingíveis para pelo menos metade da população brasileira, representada por negros e pardos, ou seja a população preta do Brasil.

Profº. Galindo Pedro Ramos

quarta-feira, 20 de março de 2013

Vídeo: O negro na formação da sociedade brasileira


Programa da Tv Brasil e do site Brasilianas.org, apresentado dia 19 de novembro de 2012.O programa celebra a cultura negra no país e faz um balanço da contribuição do negro na formação da sociedade brasileira. Neste programa é abordado também a questão do estágio atual do preconceito, os avanços do ativismo negro e sua diversidade, além do legado histórico. Para debater o assunto, o programa recebe o presidente da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura, Eloi Ferreira de Araújo; a coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro da Universidade de São Paulo, Eunice Prudente, e a professora do Departamento de Antropologia da PUC-SP, Teresinha Bernardo.

Extraído de:http://tvbrasil.ebc.com.br/brasilianas/episodio/o-negro-na-formacao-da-sociedade-brasileira

Mariene de Castro

MARIENE DE CASTRO- "ABRE CAMINHO"

Mariene de Castro, cantora, compositora e atriz baiana, notória por destacar o Maracatu e o Samba de Roda em suas músicas.
Mariene começou como Backing Vocal de Carlinhos Brown, Timbalada e Marcia Freire. Em 1996, fez seu primeiro show no projeto Pelourinho Dia e Noite, quando começou a despontar no cenário musical de Salvador, foi convidada a fazer shows na França e logo em seguida participando de shows em varios palcos importantes na Bahia. Seu primeiro cd foi Abre Caminho em 2004, que recebeu o prêmio Braskem de música e no ano seguinte recebeu o Prêmio TIM de Música como melhor disco regional.
Em 2010 lançou seu segundo álbum, Santo de Casa- ao Vivo no Teatro Castro Alvez em Salvador.
Além de cantora Mariene é compositora, tendo músicas em trilhas sonoras de filmes, como em Ó Paí Ó com Ilha da Maré, bem como participações em longas metragens, como no filme Jardim das Folhas Sagradas.
Uma grande artista, que leva toda a sua negritude e religiosidade para os seus trabalhos, com muito destaque.

Fontes:

segunda-feira, 18 de março de 2013

PRORROGAÇÃO PARA SELEÇÃO DE ALUNOS PARA O CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

 PRORROGAÇÃO PARA SELEÇÃO DE ALUNOS PARA O CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM EDU


 A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/CEPIGRAD/PROGRAD) e da Coordenação de Políticas de Integração de Educação a Distância (CIPEAD/PROGRAD), torna pública a norma que rege o processo seletivo para ingresso no Curso de Extensão Universitária em Educação das Relações Étnico-Raciais. As inscrições estão prorrogadas até 24 de março de 2013.
Para ler o edital 016/2013  clique no link: http://www.nead.ufpr.br/
   
  Em caso de dúvidas, entrar em contato com a Coordenação do Curso no telefone: (41)9641-9585

quinta-feira, 14 de março de 2013

Dez mestres do suingue da música negra brasileira

Em meados dos anos 50, nos Estados Unidos, a mistura da música gospel com o rock and roll e o rhythm and blues gerou um filhotinho que ganhou o nome de soul music. Esse gênero musical viveu seu auge nos anos 60, mas continua dando frutos belíssimos, inclusive aqui, no Brasil.
Entre os diversos nomes que se dedicaram/dedicam à soul music à brasileira, ou música negra brasileira, estão aqui alguns desses representantes. Uma turma com muita alma e gingado.
Se alguém tiver mais sugestões de nomes fiquem a vonta de comentem. Obrigado.

1- Tim Maia
O Síndico, como o apelidou o amigo Jorge Ben Jor, foi aprender a fazer esse tipo de música na fonte, nos Estados Unidos, no início dos anos 60. Lá, ouviu muito Ray Charles e Sam Cooke, aprendeu direitinho, e misturou tudo com samba, baião, forró, rock e o que mais lhe viesse à cabeça. Resultado: discos geniais e sucessos como Você, Sossego, Azul da Cor do Mar, Réu Confesso e dezenas de outros. Um mestre, e uma figura inesquecível. Morreu em 1998, mas permanece vivo nos corações dos fãs de música.

2- Cassiano
Sua interpretação em falsete na maravilhosa balada A Lua e Eu, de 1976, é um dos momentos mais belos e emocionantes da soul music brasileira. Mas esse cantor e compositor paraibano fez muito mais, compondo músicas para o amigo Tim Maia como Primavera, tocando guitarra em discos alheios e gravando outras maravilhas de sua autoria, entre as quais Coleção e Amo Você. Cuban Soul 18 Quilates (1976) é um dos melhores discos de soul music não só do Brasil, como do mundo.

3- Hyldon
Na Lua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê) é daquelas músicas marcantes no universo da soul music brasileira. Estourou na metade dos anos 70 com seu autor, o talentoso cantor e compositor baiano Hyldon. O cara tem no currículo outros sucessos bem bacanas, como As Dores do Mundo e A Sombra de Uma Árvore, e continua na ativa, fazendo discos swingados, dançantes, sensuais e românticos. Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê) também fez sucesso nos anos 90 com o Kid Abelha.

4- Cláudio Zoli
 O cantor, compositor e guitarrista carioca começou tocando na banda de Cassiano. Logo, partiu para trabalhos próprios. O primeiro estouro ocorreu em 1983 com a música Noite do Prazer, que gravou com o grupo Brylho. Pouco depois, partiu para uma carreira solo das melhores, que gerou maravilhas da soul music brasileira como Cada Um Cada Um (Namoradeira), Felicidade Urgente, À Francesa e Flor do Futuro. Ele canta bem, mas como guitarrista é brilhante, especialmente na parte rítmica.

5-Tony Tornado
O paulista radicado desde moleque no Rio é mais conhecido como autor. Mas sua interpretação para a polêmica BR-3, que venceu o 5º Festival Internacional da Canção em 1970, é um dos momentos marcantes da soul music brasileira. É uma balada soul forte, com refrão irresistível e na melhor tradição do soul.

6-Sandra de Sá
A cantora e compositora carioca apareceu logo de cara com Demônio Colorido, uma balada soul daquelas inesquecíveis. Durante a carreira, investiu em várias vertentes musicais, mas sempre se mostrou melhor interpretando soul music. Sucessos como Retratos e Canções, Não Vá, Olhos Coloridos e Sozinho são provas de sua categoria. A moça tem um vozeirão que resiste ao passar dos anos. A diva da soul music brasileira.

7- Paula Lima
A cantora começou a ficar conhecida ao integrar com destaque a banda paulistana Funk Como Le Gusta, na década de 90. Depois, partiu para a carreira solo, na qual mistura elementos de MPB, pop e samba. Mas o tempero da soul music à moda brasileira é evidente e acentuado. Nos últimos tempos, ganhou fama como jurada do programa Ídolos, o que a tornou mais conhecida do grande público.

8-Tony Bizarro
Pode um soul man brasileiro ser branco e ter origem italiana? Sem dúvidas, se esse cara for esse cantor e compositor paulistano da gema. Bizarro (é seu sobrenome de verdade) está na estrada desde os anos 70, e lançou trabalhos muito bons, entre os quais a música Estou Livre. Ele também regravou com muito estilo BR-3. O cara lançou em 2009 Estou Livre, disco que não só marca o seu retorno como pode ser incluído entre os melhores da soul music à moda brasileira.

9- Negra Li
A cantora paulistana surgiu para o grande público ao participar do filme Antonia, a história de um fictício grupo de rap brasileiro. Em 2006, ela optou por uma carreira solo, e lançou um disco que a mostra à vontade no papel de cantora de soul music brasileira. Sua voz é muito bonita, e ela dá um banho de interpretação em Vou Estar Na Minha (que sampleia hit de Marisa Monte), além de contar com a participação de Caetano Veloso na música Meus Telefonemas. Tem futuro, a moça!

10- Wilson Simoninha
Seu pai, Wilson Simonal, tinha influências da soul music em seu trabalho, embora mais ligado ao samba e ao swing. Mas Simoninha é um cantor e compositor de soul music brasileira por excelência, como seus discos lançados a partir do final dos anos 90 deixam bem claro. O vozeirão guarda semelhanças com a do pai, embora tenha personalidade própria, e seu balanço e paixão ao cantar são típicos da soul music.

Racionais MC's: A vida é desafio

Música do Racionais MC's que serve muito bem de pano de fundo para a história de vida do negro no Brasil. Sempre tendo que correr atrás de seus sonhos, com erros e acertos, como todo mundo.  Sempre tendo que mostrar algo a mais pra ser respeitado, como pessoa e como cidadão.

Vídeo do Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=52NT9cSWC_8

terça-feira, 12 de março de 2013

Consciência negra o ano todo


Especial Consciência Negra

O mês da consciência negra é só em novembro, mas as relações raciais e o respeito à diversidade devem ser trabalhados o ano todo. Confira como tratar essas questões em um especial da editora abril, na revista Nova Escola com mais de 35 textos. Acesse o site: http://revistaescola.abril.com.br/consciencia-negra/

 Boa Leitura.

Revista Carta Capital entrevista: Kabengele Munanga


 

 

Entrevista - Kabengele Munanga- Para acessar a entrevista clique no link abaixo:

 Carta Capital

30.12.2012 08:28

“A educação colabora para a perpetuação do racismo”



a Adriana Marcolini

Nascido no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, em 1942, o professor de Antropologia da Universidade de São Paulo Kabengele Munanga aposentou-se em julho deste ano, após 32 anos dedicados à vida acadêmica. Defensor do sistema de cotas para negros nas universidades, Munanga é frequentemente convidado a debater o tema e a assessorar as instituições que planejam adotar o sistema. Nesta entrevista, o acadêmico aponta os avanços e erros cometidos pelo Brasil na tentativa de se tornar um país mais igualitário e democrático do ponto de vista racial.

Retrato do professor da USP Kabengele Munanga, estudioso do racismo

CartaCapital: O senhor afirma que é difícil definir quem é negro no Brasil. Por quê?
Kabengele Munanga: Por causa do modelo racista brasileiro, muitos afrodescendentes têm dificuldade em se aceitar como negros. Muitas vezes, você encontra uma pessoa com todo o fenótipo africano, mas que se identifica como morena-escura. Os policiais sabem, no entanto, quem é negro. Os zeladores de prédios também.

CC: Quem não assume a descendência negra introjeta o racismo?
KM: Isso tem a ver com o que chamamos de alienação. Por causa da ideologia racista, da inferiorização do negro, há aqueles que alienaram sua personalidade negra e tentam buscar a salvação no branqueamento. Isso não significa que elas sejam racistas, mas que incorporaram a inferioridade e alienaram a sua natureza humana.

Sem cotas raciais, as políticas universalistas não são capazes de diminuir o abismo entre negros e brancos no País, afirma o especialista

CC: O mito da democracia racial, construído por Gilberto Freyre e vários intelectuais da sua época, ainda está impregnado na sociedade brasileira?
KM: O mito já desmoronou, mas no imaginário coletivo a ideia de que nosso problema seja social, de classe socioeconômica, e não da cor da pele, faz com que ainda subsista. Isso é o que eu chamo de “inércia do mito da democracia racial”. Ele continua a ter força, apesar de não existir mais, porque o Brasil oficial também já admitiu ser um país racista. Para o brasileiro é, porém, uma vergonha aceitar o fato de que também somos racistas.

CC: O senhor observa alguma evolução nesse cenário?
KM: Houve grande melhora. O próprio fato de o Brasil oficial se assumir como país racista, claro, com suas peculiaridades, diferente do modelo racista norte-americano e sul-africano, já é um avanço. Quando cheguei aqui há 37 anos, não era fácil encontrar quem acompanhasse esse tema. Hoje, a questão do racismo é debatida na sociedade.

CC: O sistema de cotas deve ser combinado com a renda familiar?
KM: Sempre defendi as cotas na universidade tomando como ponto de partida os estudantes provenientes da escola pública, mas com uma cota definida para os afrodescendentes e outra para os brancos, ou seja, separadas. Por que proponho que sejam separadas? Porque o abismo entre negros e brancos é muito grande. Entre os brasileiros com diploma universitário, o porcentual de negros varia entre 2% e 3%. As políticas universalistas não são capazes de diminuir esse abismo.

CC: Somente os estudantes vindos da escola pública são incluídos nas cotas?
KM: Sim, com exceção da Universidade de Brasília (UnB). Lá, as cotas não diferenciam os que vêm da escola pública e os da particular. Porém, em todas as universidades o critério é uma porcentagem para os negros, outra para os brancos e outra para os indígenas, todos provenientes da escola pública. Dessa forma, os critérios se cruzam: o étnico e o socioeconômico. Tudo depende da composição demográfica do estado. Em Roraima, por exemplo, sugeri que se destinasse um porcentual maior para a população indígena, proporcional à demografia local.

CC: Quantas universidades adotaram o sistema de cotas no Brasil?
KM: Cerca de 80. É interessante observar que há muita resistência nas regiões Norte e Nordeste. Lá eles ainda acreditam que a questão seja apenas social.

CC: O sistema deve passar por avaliação para definir a sua renovação ou suspensão?
KM: Qualquer projeto social não deve ser por tempo indeterminado. No sistema em vigor, algumas universidades estabeleceram um período experimental de 10 anos, outras de 15. Posteriormente, vão avaliar se seguem adiante.

CC: Em sua opinião, por que a Universidade de São Paulo ainda não aprovou as cotas?
KM: A USP poderia ter sido a primeira universidade a debater o sistema, porque aqui se produziram os primeiros trabalhos intelectuais do Sudeste que revelaram o mito da democracia racial. Como é uma universidade elitista, ficou presa à questão de mérito e excelência. Não é oficial, mas está no discurso dos dirigentes. A outra refere-se à questão do mérito. Eles ainda acreditam que o vestibular tradicional seja um princípio democrático. De certo modo acredito que a Universidade de São Paulo ainda esteja presa ao mito da democracia racial. Entre as universidades paulistas, apenas a Federal de São Paulo adotou as cotas. A Unesp também está de fora.

CC: O racismo é uma ideologia. De que forma podemos desconstruí-la? Qual o papel da escola?
KM: Como todas as ideologias, o racismo se mantém porque as próprias vítimas aceitam. Elas o aceitam por meio da educação. É por isso que em todas as sociedades humanas a educação é monopólio do Estado. Falo da educação em sentido amplo, ou seja, aquela que começa no lar. A socialização começa na família. É assim que, enquanto ideologia, o racismo se mantém e reproduz. A educação colabora para a perpetuação do racismo.

CC: A escola brasileira está preparada combater o racismo?
KM: As leis 10.639 e 11.645 tornam obrigatório o ensino da cultura, da história, do negro e dos povos indígenas na sociedade brasileira. É o que chamamos de educação multicultural. As leis existem, mas há dificuldades para que funcionem. Primeiro é preciso formar os educadores, porque eles receberam uma educação eurocêntrica. A África e os povos indígenas eram deixados de lado. A história do negro no Brasil não terminou com a abolição dos escravos. Não é apenas de sofrimento, mas de contribuição para a sociedade.

CC: Uma estudante angolana foi assassinada recentemente em São Paulo, mas a mídia não deu a devida atenção. Por que isto acontece?
KM: A imprensa é um microcosmo da sociedade e ignora, ou finge ignorar, o racismo. Por isso, quando ocorre um fato desta natureza, não o julga devidamente. Mas a mídia brasileira também não dedica espaço para o continente africano.

segunda-feira, 11 de março de 2013

VÍDEO - Caminhos da reportagem: a situação do negro no Brasil

Após quase 125 anos depois da abolição da escravatura, o número de brasileiros que se declara preto ou pardo é maior do que o de brancos: o Brasil tem se assumido como um país negro também. O Caminhos da Reportagem discute a situação do negro no Brasil através de números que mostram como ainda é preciso superar a desigualdade de renda e de acesso à educação, a pobreza, a violência e encarar de frente o preconceito. Este programa se deu  para as comemorações da Semana da Consciência Negra, o programa vai mostrar a violência e a indignação cantadas no rap de Salvador, histórias de superação de famílias e um porteiro que abraçou os livros e hoje é desembargador. E, ainda, um menino de rua que se tornou professor, uma editora de livros que investe na temática afro e o grupo de teatro Olodum, companhia que cria espetáculos a partir da tradição, histórias e temática negra. Reportagem: Luciana Barreto Edição: Isabelle Gomes Produção: Vivian Carneiro e Laine Fabrício


quarta-feira, 6 de março de 2013

Concurso de Planos de Aula Aplicando a lei 10.639/03 - Geledés

Concurso de Planos de Aula Aplicando a lei 10.639/03 - Geledés

Maiores informações no link:http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/educacao/planos-de-aula/planos-mais-lidos/16990-aberta-as-inscricoes-concurso-de-plano-de-aula-aplicando-a-lei-10-639-2003

Sobre Educação Física e Intervenção Antirracista

Sobre Educação Física e Intervenção Antiracista

 Extraído do site: Kilombagem


José Evaristo Silvério Netto
(opinião do autor)

Educação Social em Destaque: Pedagogia Social Como Teoria Geral, Afrocentricidade Enquanto Perspectiva Analítica e Orientação Política, e Esporte Educacional Enquanto Metodologia de Trabalho

                Há algum tempo venho refletindo sobre as dificuldades em implementar uma educação antirracista dentro e fora das escolas, como processos para o empoderamento da população em situação de vulnerabilidade social. Muito se discute e se escreve sobre esta matéria, e devido à transpiração de muitos estudiosos e dos movimentos negros e outros movimentos antirracistas, hoje temos disponível uma ampla literatura sobre a história e cultura afro-brasileira e africana, e sobre a contribuição da população negra africana e afrodiaspórica para o desenvolvimento da humanidade. No sentido de descortinar e desconstruir as bases racistas científicas, políticas e culturais, muitas linhas de pesquisa em diversas áreas de concentração de conhecimento estão sendo construídas, para investigações de diversas naturezas.

Porém, embora observemos um aumento no número de pesquisas sobre a cultura negra africana e afrodiaspórica, sobre o racismo e seus impactos, e pesquisas correlatas que têm como proposta criar acúmulo teórico e jurisprudência combativa frente às desigualdades sociais, percebo que ainda é incipiente na literatura a incidência de construtos teóricos robustos orientados à implantação e implementação de uma efetiva educação antirracista que esteja alinhada às demandas da realidade brasileira para a superação dos problemas sociais.
Parece existir uma inércia hegemônica no âmbito das ações sociais e condutas que inviabilizam, ou pelo menos prejudicam bastante a implementação efetiva de uma práxis contra-hegemônica, essencialmente antirracista. Em qualquer ambiente, seja na educação pública e privada, no mercado de trabalho em instituições públicas e empresas privadas, no cenário esportivo, no terceiro setor, e até no cenário político nas esferas executiva, legislativa, e no judiciário, o que percebemos são produções culturais e condutas orientadas pelo capitalismo e racismo, de modo que qualquer práxis contra-hegemônica cause grande incômodo e sérios desgastes e colapsos nas relações interpessoais e institucionais. Isso significa dizer que tanto as instituições quanto as pessoas, possuem o racismo e o capitalismo enquanto engrenagens que operam e condicionam os processos de interpretação dos sentidos e da realidade, avaliação e construção de cultura, sentidos e ação social e institucional, de forma consciente e subconsciente (computacional), como um sistema de retroalimentação complexo.
Acredito que a conscientização é um processo importante para que seja possível enfrentar as mazelas sociais, em especial o racismo e seus efeitos. Um conceito que têm vigorado há muito tempo nos círculos dos movimentos negros, e há pouco tempo na academia no Brasil, é o de Consciência Negra, entendida como possibilidade de as pessoas negras se situarem no tempo e no espaço social, entendendo os processos de geração das desigualdades sociais que se apoiam na etnia/cor. A problemática se estabelece na medida em que, apesar de muito debate sobre Consciência Negra, pouco se produziu sobre tecnologias educacionais para o seu desenvolvimento.
Entendo que a Educação é um processo que nos permite apreender conhecimentos, introjentando-os, identificando-os como importantes e, consequentemente, mudando nossa interação com o mundo, com as pessoas, transformando nossa produção cultural e ação social, como resultado desta introjeção, identificação e integração dos conhecimentos incorporados ao nosso espírito e consciência. Mas na área de concentração de estudos da Educação, ou da Pedagogia, o que se têm disponível de forma geral são construtos teóricos universalistas que não conseguem problematizar com profundidade as fontes das desigualdades sociais que se complexificam, ganhando novos contornos e criando novas tecnologias de manutenção do status quo e das desigualdades entre as populações. Enquanto o racismo, para citar uma fonte de desigualdade social, se imbrica nos mecanismos de produção cultural humana de maneira individual e institucional, determinando padrões de pensamento, discursos, e ações sociais discriminatórias individuais e institucionais, as pedagogias críticas que deveriam problematizar esta questão encontram dificuldades por falta de consistência nas dimensões teórica, filosófica, política e metodológica, para o seu desenvolvimento junto aos profissionais da educação. Mais do que falta de consistência, o que percebo é uma ausência de transversalidade entre estas dimensões, para lidar com a complexidade dos fenômenos sociais e, nestes, empreender uma educação que seja significativa não apenas para uma parcela diminuta da população, mas para ela toda, uma vez que se potencialize igualdade de oportunidades e superação do racismo, e das outras engrenagens de dominação.
No exercício de refletir sobre as questões supracitadas, começo a entender que talvez seja pertinente a tentativa de realizar aproximações teóricas, utilizando construtos importantes e coerentes com um projeto político societário que reze pela superação dos fatores limitantes ao desenvolvimento humano, à igualdade em oportunidades, ao exercício pleno de cidadania, e à participação de todas as pessoas. Aproximações teóricas utilizando construtos orientados às especificidades das relações entre cor/etnia, classe social, religião, e outras características sociodemográficas que hoje são determinantes para a manutenção das diferenças e violências sociais. Percebo que a Educação Social pode ser um processo de empoderamento importante das populações vulneráveis, e que a Pedagogia Social dentro da perspectiva brasileira através das produções do professor Roberto da Silva, trás um background teórico importantíssimo considerando suas linhas de pesquisa, a citar domínio sociocultural, domínio sociopedagógico e domínio sociopolítico, sendo, portanto, uma Teoria Geral da Educação Social. Acredito que a afrocentricidade enquanto orientação e perspectiva de análise da realidade, segundo Kete Molefi Assante, pode ser um grande aliado da Pedagogia Social voltada a uma educação antirracista. E finalmente, pensando na Educação Física enquanto um componente curricular que têm como uma das linhas de intervenção a corporeidade e a cultura corporal, temos a metodologia de trabalho do Esporte Educacional e suas tecnologias de ensino e aprendizagem que podem ser utilizados para a operação do processo educativo.
Desta forma, vislumbro a possibilidade em desenvolver um debate sobre a Educação Física, que é a minha área profissional, dentro da Pedagogia Social, com vistas à superação do racismo e apoiada também à análise crítica afrocentrada da realidade social, política, histórica, do negro no Brasil.


José Evaristo Silvério Netto


Graduação em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina. Atua profissionalmente como consultor técnico do Departamento Pedagógico (Núcleo Pedagógico Multidisciplinar) do Grêmio Recreativo Barueri (GRB), e como professor da rede de ensino na Secretaria de Educação de Osasco - SP. Em Barueri, esta à frente dos estudos sociodemográficos envolvendo jovens engajados nas atividades dos Núcleos de Formação Esportiva do GRB. Participa do grupo de pesquisa em Pedagogia Social, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - FEUSP, onde pretende fazer o doutorado em Educação.

OS 10 MITOS SOBRE AS COTAS

https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53  

1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.
Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação de direitos são, portanto, constitucionais e absolutamente necessárias.
2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.
Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.
3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade do ensino público no país.
É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenciais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a universidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfaticamente de forma simultânea.
4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades.
Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. Por outro lado, como também evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico.
5- a sociedade brasileira é contra as cotas.
Diversas pesquisas de opinião mostram que houve um progressivo e contundente reconhecimento da importância das cotas na sociedade brasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidades federais, segundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesquisas realizadas pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas das mais importantes associações científicas do Brasil, bem como em diversas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade acadêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursos denominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenharia etc). Alguns meios de comunicação e alguns jornalistas têm fustigado as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso não significa, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.
6- as cotas não podem incluir critérios raciais ou étnicos devido ao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira, que impossibilita distinguir quem é negro ou branco no país.
Somos, sem dúvida nenhuma, uma sociedade mestiça, mas o valor dessa mestiçagem é meramente retórico no Brasil. Na cotidianidade, as pessoas são discriminadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, seu sotaque, seu sexo e sua opção sexual. Quando se trata de fazer uma política pública de afirmação de direitos, nossa cor magicamente se desmancha. Mas, quando pretendemos obter um emprego, uma vaga na universidade ou, simplesmente, não ser constrangidos por arbitrariedades de todo tipo, nossa cor torna-se um fator crucial para a vantagem de alguns e desvantagens de outros. A população negra é discriminada porque grande parte dela é pobre, mas também pela cor da sua pele. No Brasil, quase a metade da população é negra. E grande parte dela é pobre, discriminada e excluída. Isto não é uma mera coincidência.
7- as cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais aos brancos pobres.
Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O projeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos e alunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito uma representatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa proposta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É curioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setores populares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobres perderão oportunidades que nunca lhes foram oferecidas. O projeto de Lei 73/99 é um avanço fundamental na construção da justiça social no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.
8- as cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.
O Brasil esta longe de ser uma democracia racial. No mercado de trabalho, na política, na educação, em todos os âmbitos, os/as negros/as têm menos oportunidades e possibilidades que a população branca. O racismo no Brasil está imbricado nas instituições públicas e privadas. E age de forma silenciosa. As cotas não criam o racismo. Ele já existe. As cotas ajudam a colocar em debate sua perversa presença, funcionando como uma efetiva medida anti-racista.
9- as cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, senão a permanência.
Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem parte de uma mesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senão ambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade, são apenas uma ferramenta eficaz na democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior para um amplo setor da sociedade excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, sem uma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática.
10- as cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que os estigmatizam como sendo incompetentes e não merecedores do lugar que ocupam nas universidades.
Argumentações deste tipo não são freqüentes entre a população negra e, menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas são consideradas por eles, como uma vitória democrática, não como uma derrota na sua auto-estima, ser cotista é hoje um orgulho para estes alunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, de sofrimento, de derrotas e, também, de conquistas. Há um compromisso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no passado, os grupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reconhecidos socialmente quando seus direitos são afirmados, quando a lei cria condições efetivas para lutar contra as diversas formas de segregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos e alunas pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das mais diversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles.
Fonte: Laboratório de Políticas Públicas/ UERJ

X Fórum Étnico-Racial do Paraná

Organizadores discutem 10º Fórum Étnico Racial do Paraná


Toledo sediará nos dias 15, 16 e 17 de agosto o 10º Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico Racial do Paraná. Para tanto, as reuniões que antecedem o evento ocorrem desde o ano passado. Na última segunda-feira (25), representantes das Secretarias de Educação, Cultura, Políticas para Mulheres, Desenvolvimento Econômico e APP - Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, juntamente com o Núcleo Regional de Ensino (NRE) e os representantes do Desenvolvimento Étnico Racial, discutiram as questões relacionadas ao número de participantes e a forma que eles serão conduzidas as atividades realizadas durante os três dias do encontro.
O objetivo do fórum é preparar educadores capazes de inserir de maneira correta o ensino da cultura Africana, nas escolas públicas e particulares. Para a Coordenadora de Diversidade Cultural do Núcleo de Estudos Avançados de Direito Internacional (NEADI), Caroline Recalcatti Silveira , essa reunião serviu para que todos se unissem e discutissem a questão levantando as problemáticas para que se encontre o que ainda pode e deve ser corrigido para que de fato a lei seja cumprida, evitando a desigualdade.

OFICINAS
Os professores ainda participarão de oficinas preparatórias nos assuntos relacionados à temática do encontro. Tendo em vista que o número estimado de participantes são 700 professores, as oficinas terão um controle limitado no que diz respeito aos egressos, atingindo uma média de 40 a 60 pessoas.
Segundo o Fundador da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (ACNAP), Nivaldo Arruda (Paulo Borges), normalmente o número de oficinas é trabalhado de acordo com o tamanho do evento. O fórum terá uma projeção de 700 pessoas e se for trabalhado com uma média de 10 oficinas o número de participantes por grupo seria muito grande e prejudicaria a qualidade do ensino.

Disponível em:  Jornal do Oeste

terça-feira, 5 de março de 2013

Educação Física escolar: principais formas de preconceito

Educação Física escolar: principais formas de preconceito
 
* Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais 
**Graduando em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais 
(Brasil)

Luiz Henrique Marchesi Bozi*
Miranda, Dayane Graciele de Jesus
Ana Luiza Mota Melo
Rodrigo Andrade Alvarenga Esperança**
 
 
 
 
Resumo
       O preconceito constitui-se em um grave problema da atualidade, existente em toda a sociedade, de um modo geral, e principalmente na escola, sendo freqüentemente observado nas aulas de Educação Física. As principais formas de preconceitos encontradas na Educação Física Escolar são o racismo, questões ligadas ao gênero, diferenças corporais e a intolerância aos portadores de necessidades especiais. É papel do professor de Educação Física a transmissão do saber elaborado, desvinculado de qualquer valor que vise à reprodução de preconceitos, discriminação e subordinação.
      Unitermos: Educação. Educação Física escolar. Preconceito.
 
 
  http://www.efdeportes.com Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

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Introdução
    Ao abordarmos o tema “preconceito” dentro da Educação Física Escolar, deparamo-nos com um sério problema que abrange este meio. É extremamente difícil pensar em práticas pedagógicas inclusivas onde, pois o que existe hoje, é meramente excludente e pautado no preconceito em todas as suas formas, seja racial ou por qualquer tipo de diferença.
    Desta forma, acreditamos ser o preconceito o maior problema observado na prática escolar, principalmente na Educação Física, onde grande parte das questões é abordada de forma mais exposta e clara, sobretudo no que diz respeito às questões do corpo. Outro motivo é que, devido o preconceito ser fruto de padrões estabelecidos pela sociedade, o corpo reflete a principal forma de manifestação deste, sendo que, especialmente na escola, muitos destes pensamentos são manifestados em forma de críticas, exclusões e humilhações.
    Neste sentido, pautando-se na diversidade humana e no discurso dominante da universalidade, constituiu-se uma contradição do contexto escolar onde, aqueles que fogem do padrão estabelecido são julgados como inferiores e incapazes. Desta forma, não se respeita às diferenças, mas sim, as julgam e punem aqueles que as possuem.
    Ao observarmos tal prática em um país onde as diferenças raciais são características nacionais, identificamos um problema de difícil resolução, pois estes valores já foram pré-estabelecidos e desta forma, criaram-se os pré-conceitos.
    Segundo Fischmann (1998), “tratar da discriminação religiosa e étnica é tratar da possibilidade da Paz” (p.961). Sendo a escola um sistema social onde os conceitos e pré-conceitos são passados de gerações a gerações, entendemos que ela é co-responsável pela formação de uma nova geração que, finalmente, possa respeitar as diferenças.
Formas mais freqüentes de preconceito na escola
Racismo
    Vivendo em sociedade, os seres humanos devem respeitar-se, uns aos outros. Todos possuem direitos, porém o direito de um cidadão não pode ultrapassar o direito de outro. Dallari (1998) afirma que, os direitos humanos no Brasil passaram a ser discutidos a partir da década de 1970, apesar dos desaparecimentos, das torturas e dos governos militares ainda imperarem naquela época. Desta forma, para que seja assegurada a dignidade da pessoa humana, faz-se necessário refletir sobre a teoria e a prática dos direitos humanos.
    Deste modo, vimos na escola o meio ideal para disseminar esta discussão e para colocá-la em prática, uma vez que é dentro desta instituição que estão estabelecidas as maiores formas de discriminação e preconceitos, principalmente o racial, que é algo muito palpável na sociedade brasileira, em razão desta ter como principal característica a diversidade étnica e racial.
    Segundo Rangel (2006), o racismo fere os direitos humanos, na medida em que discrimina a partir de uma classificação. Como a tendência do ser humano é classificar tudo que existe, atribuições de juízos de valores foram criadas e divididas em diferentes categorias. Assim, em nome destes juízos “nos damos o direito de desprezar ou hostilizar o outro”.
    No que se relaciona a escola, sabe-se que é muito mais difícil um indivíduo negro entrar e/ou permanecer na mesma do que uma pessoa branca ou, quando isto ocorre, este é geralmente submetido a críticas que o inferioriza de alguma forma. Tal prática na escola humilha e exclui aqueles que são submetidos à ela e assim, marginaliza aqueles que não se encaixam nos padrões impostos. Este fato é comumente observado e, na maioria das vezes, aqueles que deveriam intervir, como professores e pedagogos, não sabem como fazê-lo ou, outras vezes são propagadores deste tipo de atitude, o que reforça e estimula o preconceito ao invés de intervir e combatê-lo.
    No âmbito da Educação Física Escolar este tipo de atitude é observado de forma mais freqüente, uma vez que o contato físico, proporcionado pela prática em ambientes externos estimula algumas manifestações que não são tão comuns dentro das salas de aula, pois neste ambiente o corpo é visto de forma livre e exposta do que em outras práticas escolares.
Questões ligadas ao gênero
    Ao falarmos das relações de gênero, ou seja, das diferenças estabelecidas pela sociedade com relação a homens e mulheres, é válido lembrar que tal assunto vem sofrendo uma constante mudança, devido a uma resistência do gênero feminino em ceder às imposições da sociedade que, culturalmente impôs normas de comportamento e de conduta completamente incoerentes e que, desta forma, impediu e atrasou em milhares de anos a independência das mulheres no que se refere a diversos fatores, sejam profissionais, sexuais ou meramente comportamentais.
    Segundo Sousa & Altmann (1999), os sistemas escolares modernos não apenas refletem a ideologia sexual dominante da sociedade, mas produzem ativamente uma cadeia de masculinidades e feminilidades heterossexuais diferenciadas e hierarquicamente ordenadas. Mesmo com essa hierarquização, as construções de gênero não se opõem, ou seja, o feminino não é o oposto nem o complemento do masculino.
    Porém, mesmo com um avanço acerca deste assunto e, com um grande desenvolvimento do gênero feminino em todos os aspectos, existe ainda uma grande discriminação das mulheres no âmbito escolar, principalmente na disciplina Educação Física em que, frequentemente as mulheres são excluídas de diversos esportes que foram estigmatizados como “masculinos”.
    De acordo com Kunz (1993), em estudo sobre a construção histórico-cultural dos estereótipos sexuais, no contexto escolar, a Educação Física constitui o campo onde, por excelência, acentuam-se, de forma hierarquizada, as diferenças entre homens e mulheres. Assim, muitas meninas são impedidas de participar da prática esportiva na escola devido a este tipo de preconceito, sendo, algumas vezes, excluídas pelos colegas de sala e outras vezes pelos próprios professores de Educação Física, que camuflam o seu preconceito em justificativas ignorantes como “os meninos são mais fortes”, “é para evitar que elas se machuquem” ou até mesmo “elas não sabem jogar este esporte”.
    Tais condutas envergonham profissionais de Educação Física que possuem propostas interessantes para intervir neste tipo de aspecto e ainda inculcam o preconceito nestas crianças, pois não só os meninos excluem as meninas como as mesmas se inferiorizam por não acreditarem que são capazes.
    Não pretendemos com este trabalho vitimizar o gênero feminino, pois desta forma estaríamos ‘aprisionando-as pelo poder’, desconsiderando suas possibilidades de resistência e estigmatizando o gênero masculino como ‘vilões’, o que não é uma verdade, já que os meninos também sofrem exclusão no âmbito da Educação Física Escolar, uma vez que alguns esportes são vistos como exclusivamente femininos, como a Ginástica Rítmica, a Dança e outras manifestações esportivas.
    O preconceito relacionado ao gênero atinge ambas as partes, em magnitudes diferentes, porém, de qualquer forma, este se mostra presente. E é no meio escolar e, principalmente nas aulas de Educação Física, que tal diferenciação é vista de um modo mais freqüente e é por isso que o professor deve estar preparado para intervir neste processo, discutindo sobre o tema e modificando a ação dos alunos.
Diferenças corporais
    Outro tipo de preconceito observado na escola diz respeito às diferenças corporais. A sociedade, ao estabelecer padrões que devem ser seguidos e perseguidos, trata aqueles que não se enquadram neste contexto como inferiores, anormais, feios.
    A escola mais uma vez é o principal ambiente em que tais pensamentos, criados pela sociedade, pela mídia e por outras formas de alienação, se propagam. A mídia e os meios de comunicação de massa impõem padrões estéticos a toda uma sociedade, fazendo com que as mulheres sonhem em possuir corpos magros e firmes e homens anseiem por se tornarem fortes. Esta imposição traz sérios problemas àqueles que não se encaixam neste perfil, pois estes serão sempre criticados, subjugados e instigados a se transformarem em algo que não são, que não condiz com sua genética ou com sua personalidade.
    Tais situações na escola são vistas de forma muito freqüente e, mais uma vez, as aulas de Educação Física refletem o meio mais propício para tais manifestações, pois é nesta aula que os corpos estão expostos a este tipo de marginalização e, por isso, à mercê do julgamento público.
Portadores de Necessidades Especiais
    A escola, como instituição social, apresenta em seu interior normas de condutas e comportamentos nos quais estão fundamentadas as diversas práticas pedagógicas. Neste sentido, o comportamento diferente é logo tido como deficiente, incapaz de satisfazer às exigências educacionais. Os chamados “deficientes” são excluídos ou mantidos separados dos “normais” dentro das instituições escolares.
    Diante da luta e resistência dos estigmatizados, frente ao seu estado de desumanização, o próprio sistema social elabora instituições escolares especiais com o intuito de manterem a ordem através de práticas assistencialistas e reprodutivistas que buscam corrigir os erros dos “desviantes”, mantendo-os em um estado de conformismo com a realidade de desigualdade (Brasil, 2003).
    Nesse contexto, os problemas que regem a relação da escola e dos colegas de classe com os portadores de necessidades especiais não se limitam ao preconceito sofrido por eles, o que é algo extremamente visível, mas também ao despreparo dos professores e funcionários da escola para lidar com as diferenças individuais. Por isso, na maioria das vezes, mantém-se o aluno excluído do resto da turma e sem nenhum tipo de atenção especial que colabore para o seu desenvolvimento escolar.
    Essas atitudes são notadas em toda a escola, em todas as aulas e com todos os profissionais envolvidos. Porém, as aulas de Educação Física expõem ainda mais esta marginalização, sendo que os portadores de necessidades especiais, na maioria das vezes, não são estimulados a aprender com os demais e nenhum tipo de atividade diferenciada em que todos possam participar de forma irrestrita é proposta.
    Neste sentido, portadores de necessidades especiais sofrem algum tipo de marginalização em vários aspectos na escola, mas principalmente nas aulas de Educação Física, seja por preconceito na forma de exclusão ou de inferiorização ou até mesmo pela má formação dos professores, que não sabem como incluí-los em suas aulas.
Formas de intervenção
    Nas aulas de Educação Física o professor assume o papel de formador do cidadão, não só pela ótica fisiológica e/ou motora, mas também pelo viés da formação do indivíduo como um todo. Neste sentido, é papel do professor de Educação Física a transmissão do saber elaborado, desvinculado de qualquer valor que vise à reprodução de preconceitos, discriminação e subordinação.
    Ao professor de Educação Física cabe intervir na formação de valores dos indivíduos, colocando em discussão assuntos como preconceito racial, étnico, de gênero, relacionado a parâmetros estéticos ou a qualquer tipo de diferença entre os mesmos. Ou seja, é importante que o professor de Educação Física aborde os assuntos no momento em que eles acontecem para que se cause uma reflexão por parte dos alunos sobre a ocasião ou problema ocorrido.
    A respeito dos portadores de necessidades especiais, cabe ao professor adequar as atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física às deficiências dos alunos, sem, no entanto, inferiorizá-los. O esporte e as práticas pedagógicas nas aulas devem ser vistas como um modo de inclusão social e não de fixação de preconceitos estabelecidos pela sociedade.
    A discussão e abordagem desse tema, nas aulas de Educação Física, devem ser práticas constantes, a fim de formar indivíduos isentos de preconceitos, críticos e conscientes das diferenças que cercam a sociedade. Assim sendo, serão capazes de promover um respeito mútuo.
Conclusão
    Com o referido trabalho, concluímos que o preconceito é algo que está presente em toda a sociedade, inclusive no âmbito escolar, e que se manifesta principalmente nas aulas de Educação Física, pois os indivíduos estão mais expostos a todo o tipo de crítica ou julgamento. Seja por sua etnia, raça, questões estéticas, de gênero ou por qualquer outra diferença que fuja dos padrões impostos pela sociedade, muitos alunos hoje são submetidos a algum tipo de preconceito.
    Tais manifestações geram humilhações que resultam em indivíduos acríticos, tímidos e inseguros e que se sentem inferiorizados pelos outros. As conseqüências desta formação podem ser diversas e devem ser evitadas pelos profissionais da área da Educação, que são atualmente os principais intervencionistas neste âmbito.
Referências bibliográficas
  • BRASIL, A. S. Política de inclusão escolar e Educação Física: uma abordagem antropológica. UFG. 2003.
  • DALLARI, D. A. A globalização e seus efeitos excludentes: serão respeitados os direitos humanos nos próximos 50 anos? In: http://www.iedc.org.br/publica/dialogando/dallari.htm, 1998 (acessado em 28.10.2007).
  • FISHMANN, R. Estratégias de superação da discriminação étnica e religiosa no Brasil. In: PINHEIRO, P. S..; GUIMARÃES. S. P. (org.) Direitos Humanos no século XXI. Rio de Janeiro: Fundação Alexandre de Gusmão, 1998. p. 959-985.
  • KUNZ, M. C. S. “Quando a diferença é mito: Uma análise da socialização específica para os sexos sob o ponto de vista do esporte e da educação física”. Dissertação de mestrado em educação.Florianópolis: UFSC, 1993, 167pp.
  • RANGEL, I. C. A. Educação Física na Educação Infantil: notas sobre a possibilidade de formação de preconceito étnico etnico-racial. UNESP-Rio Claro-SP, Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2006, 5(1):135-146.
  • SOUSA, E. S. & ALTMANN, H. Meninos e meninas: Expectativas corporais e implicações na educação física escolar. Cadernos Cedes, ano XIX, nº 48, Agosto/99.

Artigo presente no site: http://www.efdeportes.com/efd117/educacao-fisica-escolar-principais-formas-de-preconceito.htm